MULTITOPIAS
SESC RJ
SESC NOVA FRIBURGO
APRESENTA
MUTITOPIAS
EXPOSIÇÃO
Projeto contemplado no Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar/24 que reuni 8 artistas contemporâneos com diferentes origens, formação e linguagens artísticas.
ARTISTAS
ADONIS GALVÃO, BEATRIZ BASSO, BIA SERRANONI, ESTHER BONDER, FÁBIO NARANNO, LET COTRIM, PALOMA CARVALHO E STELLA MARIZ.
CURADORIA
ANA CARLA SOLER
PRODUÇÃO
ZOE ARTE
ABERTURA
16/03/24, 19 ÀS 21 HS
ATÉ 16/06/24
SESC Nova Friburgo
Horário de funcionamento da Unidade: terça a domingo, de 9h às 21h
Av. Pres. Costa e Silva, 231 - Centro, Nova Friburgo RJ 28630-000 Brasil
T 21 4020 2101
APRESENTAÇÃO
“Nem na arte existiria criatividade, se não pudéssemos encarar o fazer artístico como trabalho, como um fazer intencional, produtivo e necessário que amplia em nós a capacidade de viver”
Fayga Ostrower
O projeto Multitopias que ora concretizamos como Mostra Expositiva, contemplado no Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar/24 reúne 8 artistas contemporâneos com distintas origens e formações que, a partir do compartilhamento de processos criativos iniciado em plena pandemia - período esse em que as trocas culturais foram suspensas forçando todo tipo de produção material a se adaptar aos formatos digitais em experiências à distância - foi capaz de desenvolver uma afinidade construída na diversidade, no exercício de observação, a partir dos diálogos entre os elementos plásticos e expressivos, confirmando a possibilidade de estabelecer vínculos afetivos e de trabalho, independente da distância.
Na arte, a forma é o aspecto exterior dos objetos reais, imaginários ou representados, assim nasceu a ideia de dar corpo a uma mostra, partilhando as vivências do grupo. Como não existe construção de imagem sem palavras, Multitopias, que dá título à exposição, e não tem registro nos dicionários, traduziu esse fazer artístico e fomentou o desafio para que pudéssemos desenvolver o projeto.
A Mostra Expositiva é o resultado de uma série de elementos simbólicos reunidos que tem a função de promover junto ao público a multiplicidade de uma produção cultural com caráter livre e aberta a todas as idades e gêneros, propiciando experiências subjetivas através da reflexão sobre os processos criativos e encontro entre a obra, o artista e o espectador, onde a arte acontece. Sua realização na Galeria de Exposições do SESC de Nova Friburgo possibilita a descentralização, inclusão e diversificação, fundamentais na formação cidadã.
Como medida de acessibilidade, disponibilizamos em cada obra um QrCode com acesso à plataforma SoundCloud onde o público poderá ouvir o próprio artista dissertando sobre sua respectiva obra.
Coube ao design e artista Adonis Galvão criar essa peça gráfica guia da exposição. Ele se inspirou nos mapas e nos cabos de fibra ótica que atravessam oceanos e aproximam as pessoas com a rapidez da luz. Suas linhas imaginárias cruzaram o Atlântico para traçar os fios condutores que uniram os artistas. Como resultado, cada visitante poderá ter em mãos o desenho da expografia elaborada pela Curadora Ana Carla Soler.
Galvão mapeou Multitopias para que o visitante da mostra tenha a possibilidade de encontrar cada ponto-obra e, consequentemente, cada história por detrás desse fazer artístico.
Finalmente, agradecemos a todos e todas que contribuíram para tornar possível a realização da Mostra Expositiva Multitopias, a Equipe Técnica do SESC, aos Colaboradores, aos Artistas Adonis, Beatriz, Bia, Esther, Fábio, Let, Paloma e Stella por acreditar e confiar no trabalho criativo necessário que amplia em nós a capacidade de viver e ao público, que nos enobrece com a presença.
MARCIA ZOÉ RAMOS | PRODUTORA | ZOÉ ARTE
MULTITOPIAS
Paralelos e meridianos representam linhas imaginárias que cortam o globo e facilitam funções cartográficas. Países, estados e cidades são linhas inventadas que delimitam um território e cumprem a missão de oferecer ao ser humano a ilusão do domínio. Alguns tentam criar muros na vã tentativa de separar lados, materializando as linhas divisórias. São muitos os esforços para ter a fictícia sensação de pertencer a um lugar.
No vocabulário, usa-se a congruência de termos gregos para, em “topografia” (“tópos” e “grafia”), forjar uma extensão de terra e nela contemplar a descrição de suas peculiaridades, sejam naturais e/ou artificiais. Em “toponímia” (“tópos” e “onoma”) encontra-se a possibilidade de nomear e distinguir um espaço geográfico concreto. Na matemática, utiliza-se a palavra “topologia” (“tópos” e “logia”) para descrever o estudo que investiga se os pontos de um conjunto estão distribuídos e conectados — ou não — entre si.
Na exposição Multitopias, estão reunidos no SESC Nova Friburgo artistas que se propõem a refletir sobre o lugar que o ser humano ocupa na Terra, buscando por meio da paisagem trazer uma possibilidade de planeta onde não existam linhas imaginárias que servem apenas para limitar. Formam juntos um lugar-comum, onde os seres humanos compreendem que seus corpos, a natureza e o meio ambiente não se tratam de elementos separados, mas sim de um único organismo vivo.
É indissolúvel pensar a relação entre os seres humanos e a natureza sem questionar a ação colonizadora dos países europeus nos continentes americanos, seja pela chegada via caravelas, ou pela imigração populacional que mitigou as culturas locais. Foi nesse processo que surgiu a ficção de que o planeta Terra tem função servil, extraindo seus recursos naturais para monetização. É dessa reflexão que partem os trabalhos de Adonis Galvão, Stella Mariz e Beatriz Basso. Os três artistas vivem no fluxo constante entre Brasil, Portugal e Itália e é pelas águas do Atlântico que navegam suas pesquisas, refletindo as consequências humanas na paisagem. Ao se tratar da figuração, encontramos o fadado fim da humanidade, a ruína, e quando nos deparamos com a abstração de Basso, as cores retratam o fluir da soberania da natureza.
Os trabalhos de Bia Serranoni, Fábio Naranno e Paloma Carvalho criam cartografias da edificação, paisagens construídas pelas mãos humanas. Prédios, pilastras e mapas são perpassados pela luz e cor. Se integram como uma coisa só e, ao coexistirem, não são mais o que eram antes. Na composição dos trabalhos, as funções originárias de seus elementos perdem ação, são apenas estruturas banhadas pela luz e que nos permitem admirar as cores. Seria a cor uma metáfora dos olhos, interpretando a luz como um prisma, para traduzir o real?
Nesse universo fantástico, o presente oferece uma espécie de premonição, com indícios nítidos do que pode acontecer ao seguirmos, míopes, as consequências das ações predatórias contra a natureza. A artista Esther Bonder cria em suas telas paisagens que ignoram o verde esperado das folhas e árvores, traz para o cenário uma floresta do futuro com flores e plantas que não respeitam a dinâmica visual que nos acostumamos a vislumbrar. Já Letícia Cotrim nos presenteia com uma série de fotografias do voo de aves procelárias, espécies ameaçadas de extinção, exímias voadoras, que quando avistadas em bando, são conhecidas por anunciar tempestades. O avatar de Acácia Velata é um corpo cibernético, preso aos limites da tecnologia que a suporta. Os contornos do que seria um ser humano são camuflados e a sua matéria digital não cabe em si e, por isso, tenta transbordar, enfrentando os limites de uma caixa eletrônica que detém a personagem na imaterialidade.
Multitopias é uma exposição que busca na sinfonia da vida uma forma de escapar da distopia que parece estarmos vivendo. Em conjunto estão pinturas, esculturas, instalações, vídeos e fotografias que soam familiares por suas características comuns, mas que são tão desconhecidas como o amanhã. A mostra ancora-se na utopia de tentar capturar o espaço entre a subjetividade do controle e a liberdade do caos, na única certeza de que não há nada mais capaz do que a natureza para ocupar este lugar.
ANA CARLA SOLER | CURADORA
CATÁLOGO EXPOSIÇÃO