LA NATURA CHE PARLA
LA NATURA CHE PARLA
PONTE PER L’ARTE & BINARIA ARTE TURIM
APRESENTAM
ADONIS GALVÃO
ALEXANDRE VIANNA
BEATRIZ BASSO
BIA SERRANONI
LA NATURA CHE PARLA
A NATUREZA QUE FALA
EXPOSIÇÃO
29 NOV | 21 DEZ 24
CURASORIA DE
CAROLA DEL PIZZO
Abertura 29 de novembro de 2024, sexta-feira, 18h
BINARIA-CENTRO COMMENSALE
VIA SESTRIERE 34
TURIM-ITÁLIA
De segunda a sábado, das 9h às 22h
Para informações +39 3312161266
instagram.com/#lanaturacheparlait
APRESENTAÇÃO
LA NATURA CHE PARLA – Abertura da exposição
“Sabemos que o ar está cheio de vibrações que não podemos ouvir
(…)
poderíamos descobrir o significado da natureza através da música dos objetos”
John Cage
4 artistas brasileiros – Adonis Galvão, Alexandre Vianna, Beatriz Basso, Bia Serranoni – trazem à luz, através de um cruzamento entre as linguagens da pintura e da fotografia, os diálogos sutis entre o espaço e os corpos, entre a arquitetura e a paisagem, entre o artificial e o natural . La Natura che parla uma oportunidade de ouvir as vozes secretas dos seres que habitam o mundo, animados e inanimados, redescobrindo ligações inesperadas entre eles, retornando com formas e harmonias invisíveis que dialogam entre si.Curadoria de Carola Del Pizzo
A exposição estará aberta à visitação de 29 de novembro a 21 de dezembro de 2024
La natura che parla
Curadoria de Carola Del Pizzo
Estamos agora habituados a olhar para o natural como uma esfera contrastante, estranha, distinta (e distante) do ser humano: por um lado, está o universo artificial, carro-chefe do engenho prometeico, fruto da racionalidade temperada pela ambição de descoberta e conquista que Ulisses e a sua interminável viagem longe de casa nos incutiram; de outro, o da natureza, ora uma cornucópia a ser aproveitada, ora um inimigo a ser contido, outras vezes um lar frágil e doente a ser protegido. Muito ausente de todos esses quadros de significado em que colocamos o mundo natural, está a prática de ouvir sua voz, ou melhor, as suas vozes.
Escutar implica uma interrupção do desejo de falar, deixando-se comunicar por sons imprevisíveis, potencialmente inéditos e não concordados a priori. É abrir-se verdadeiramente ao desafio de harmonizar-se, sem ter ponto de partida: é nisso que se treinam os olhos de Adonis Galvão, com a paciência dos ciclos das estações, das épocas de floração das plantas e dos fluxos migratórios das aves. Numa síntese colorida de minúcias hiper-realistas e abstração geométrica, as pinturas de Adonis narram os encontros maravilhados de seu olhar com a vegetação tropical e seus habitantes iridescentes. O hiperrealismo do pintor ao retratar os detalhes verde-celeste de seus papagaios - protagonistas da série Passaredo - nada mais é do que um mensageiro da religiosidade material que caracteriza seu diálogo com a natureza, da qual ele se permite observar cada manifestação como respeito de um sacerdote e a maravilha inocente de uma criança. As geometrias traçadas pelo poleiro e pelos circulos escuros que aparecem nas telas oferecem, ao contrário, o contraponto abstrato sempre recorrente em sua arte: misturada pelo pincel de Adônis, a matemática torna-se não um instrumento de homogeneização e racionalização, mas sim o alfabeto de uma melodia comum, polifônico e também audível e participativa a por todos os seres.
Escutar sempre envolve também ouvir a si mesmo: não se tem margem para acolher a voz dos outros se a sua não alcançou a paz necessária para se permitir o silêncio. Uma paz que brota em deixar-se antes de mais nada espaço para se expressar, encarnando aquela liberdade que talvez mais do que todas abala os alicerces de si mesmo. Porque para se expressar livremente é preciso aceitar em contemplar o próprio reflexo, é preciso mergulhar até nas suas entranhas mais escuras e inexploradas. Os dedos estendidos e as costas curvadas da série fotográfica Cura, de Alexandre Vianna, conseguem restituir todas as dilacerações internas de uma alma forçada a encontrar-se na verdade da sua própria solidão: sob os invólucros com que vestimos as nossas identidades públicas, há corpos que pulsam ao ritmo de dores antigas, de alegrias secretas e de esperanças silenciadas. E então o que se delacera, quando nos encontramos face a face com as faces mais autênticas do eu, é antes de tudo o véu de coerência superficial com o qual tentamos escondê-las. Nessas fraturas repousam as sementes do encontro com a alteridade. É assim que descrevo as duas fotos da série Quantum, em que os véus, das sufocantes prisões diáfanas da sua própria autenticidade, retornam como ninhos temporários para procurar a si mesmo, caixas de ressonância das próprias cores interiores. As fotografias expandidas Revel e Embrace – nascidas de um momento performativo em que os sujeitos são recobertos por um tecido translúcido e envolvidos por uma frequência sonora específica que favorece a introspecção – ensinam que curar o relacionamento com as próprias diferenças é o prelúdio para abraçar e reconciliar-se com as dos outros.
Um ponto de contacto etéreo entre a escuta de Adonis e a escuta de Alexandre é traçado pelos gestos artísticos de Beatriz Basso, que na delicadeza da sua espontaneidade possui a sutileza para penetrar nas armaduras dos mundos mais inconciliáveis. O salto, com os seus toques essenciais de preto e branco, funciona como um guia para encontrar a coragem de viajar na sua propria interioridade, com o mesmo espírito com que se aventura na floresta em busca de uma carícia balsâmica das suas árvores e das suas sombras. As mãos de Beatriz, que em seu movimento leve parecem bordar os conselhos invisíveis das fadas e dos espíritos da floresta que povoam sua infância brasileira, revelam caminhos para respirar as emoções com a calma que precisam para serem vivenciadas em seu bouquet multifacetado cromático. O verde e o azul - juntamente com o creme, protagonistas centrais do percurso artístico de Beatriz ao longo do último ano, inseparavelmente entrelaçados com as etapas da sua biografia emocional - entoam o calor das madrugadas primaveris, quando o ar fresco da noite saúda os botões dos ramos e os raios de sol de um brando amarelo colorem o céu com sua clareza matinal. As paisagens emocionais de Beatriz, entre as poucas que conseguem evocar correspondências reais entre a interioridade e o mundo natural, sem transformar a natureza num arauto servil da sensibilidade humana, levam-nos a ver com a consciência de quem sabe que a geografia mais sincera não se escreve em mapas sólidos e planisférios, mas em um bloco infinito de papel de seda, de cujas transparências e sobreposições mútuas, sempre podem ser revelados novos universos de significados.
Esta última face da escuta a revela com suprema maestria o objetivo de Bia Serranoni. O claro-escuro de Bia mostra que ouvir é também captar interstícios de sentido capazes de reescrever as próprias narrativas, de nos levar a reinterpretar nossas certezas mais imóveis e estatuárias. A indiscutível monumentalidade das estruturas arquitetônicas, interlocutoras primárias das lentes de Bia, é reinterpretada por meio de jogos de luz e reflexos visíveis apenas a ouvidos treinados para silenciar os ecos de seu próprio ângulo de perspectiva sobre o mundo. Suas fotografias deixam falar o espaço entre as coisas e nas coisas e trazem à tona novas constelações capazes de abrir brechas em qualquer determinismo rígido. Não há estrutura que, enquadrada por Bia, não pareça ser uma estufa fértil de botões utópicos, uma “Ilha que” – ao contrário da de Peter Pan – “Não Estava Lá”, mas que, incrivelmente, “Começa a Ser” .
La natura che parla, através de quatro olhares preciosos, celebra a escuta como a única ação que pode verdadeiramente assumir o comando de uma relação com o mundo natural: uma relação que faz da natureza não um pano de fundo, mas um interlocutor, Adônis nos conta; uma relação que surge não da crença condescendente de ser escolhido como seu protetor, mas de um humilde desejo de curar e curar, conta-nos Alexandre; uma relação que é espelho para (re)conhecer-se e questionar-se, diz-nos Beatriz; uma relação que sabe habitar incertezas e silêncios, vislumbrando as estrelas polares dos caminhos alternativos, conta-nos Bia.
CATÁLOGO
FOTOS DA EXPOSIÇÃO
FOTOS LUCA PESCAGLINI